Ao longo dos últimos anos, ocupando a função de editor de internet do Jornal do Comércio, criei o hábito de monitorar as audiências de grandes jornais brasileiros auditados pelo IVC, o Instituto Verificador de Comunicação (antigo Instituto Verificador de Circulação). Mensalmente, dezenas de sites tem seus números de acessos únicos, sessões e impressões de páginas conferidas pelo IVC, de forma a certificar para o mercado anunciante seus números de audiência.
O acompanhamento destes dados me permitia perceber se os picos e quedas da audiência do meu site seguiam alguma tendência mercadológica e também fazer comparações. Decidi agora compartilhar estes dados aqui, pois acredito que serão úteis para mais pessoas. A métrica que geralmente acompanho são as page impressions, ou pageviews:
veículo | ago/18 | set/18 | % |
Época | 4.528.843 | 8.033.872 | 77,39 |
Folha | 202.011.054 | 282.172.717 | 39,68 |
O Globo | 111.806.808 | 136.539.120 | 22,12 |
Estadão | 104.319.927 | 124.836.539 | 19,67 |
O Dia | 57.048.974 | 60.233.420 | 5,58 |
Extra | 107.671.676 | 108.286.189 | 0,57 |
Folha da Região | 1.082.747 | 1.056.520 | -2,42 |
ClicRBS | 50.030.152 | 48.727.196 | -2,60 |
Bem Paraná | 2.636.157 | 2.511.103 | -4,74 |
A Tribuna | 11.946.297 | 11.200.282 | -6,24 |
Jornal NH | 3.009.316 | 2.818.695 | -6,33 |
DCI | 2.151.656 | 1.889.270 | -12,19 |
Valor | 35.627.947 | 30.952.260 | -13,12 |
Diário Gaúcho | 3.128.106 | 2.490.725 | -20,38 |
Época Negócios | 4.374.010 | 3.296.966 | -24,62 |
Os dados apontam que as audiências da Época, Folha, O Globo e Estadão dispararam com o aquecimento da campanha eleitoral no mês de setembro de 2018, em relação a agosto.
A Época, em especial, esteve bem perto de dobrar sua audiência – o crescimento no número de visualização de páginas foi de 77,39%. A revista, que ao longo do ano passou por uma profunda mudança editorial e gráfica, triplicou o número de acessos únicos e sessões no dia 29 de setembro. O relatório do IVC não disponibiliza quais foram as páginas mais acessadas do site da revista, mas desconfio que o tráfego veio da matéria com o depoimento do chaveiro que abriu o cofre da ex-mulher de Jair Bolsonaro, repercutindo reportagem que saiu no dia anterior na revista Veja, que acusava o candidato a presidência de ter furtado um cofre no Banco do Brasil.
Maior jornal do Brasil, a Folha de S. Paulo ampliou ainda mais sua audiência na internet em setembro, em 39,68%. (aliás, aqui é o momento de eu admitir que a Folha estava certa e eu estava errado: eles não precisam mesmo do Facebook para atrair leitores). O site da Folha chegou a receber a ter expressivos 13,5 milhões de pageviews num único dia – 19 de setembro, quando a capa do jornal estampou a manchete Economista de Bolsonaro quer IR unificado e CPMF, nota da jornalista Mônica Bergamo que gerou alguma crise nos bastidores da campanha do candidato do PSL.
O Globo e O Estadão também registraram bom crescimento de audiência, de 22,12% e 19,67%, respectivamente. O pico em ambos os veículos foi a cobertura do atentado a Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora, no dia 6 de setembro.
Da lista de 15 veículos acima, os populares jornais cariocas O Dia e Extra também registraram crescimento de audiência, enquanto os demais tiveram quedas.
No Sul, o ClicRBS registrou uma pequena queda de audiência em setembro, de 2,6%. Isto pode estar relacionado ao processo de migração dos jornais vendidos para o grupo NSC para fora do Clic. O dados de audiência do ClicRBS ainda apontam a capa do Diário Catarinense como a segunda URL mais acessada, só atrás da página inicial da GaúchaZH. Este mês não foi possível recuperar pelo IVC os dados de setembro de A Notícia, Jornal de Santa Catarina, A Hora de Santa Catarina e Diário Catarinense, o que sugere que esta mudança está em processo.
O levantamento mostra ainda novas quedas de audiência dos gaúchos Jornal NH e Diário Gaúcho e também uma menor visitação nos veículos especializados em economia DCI, Valor e Época Negócios.
Boa impressão.
Os dados de outubro também deverão trazer alguns picos de audiência. A questão é: conta um pageview quando eu entro numa matéria e não consigo abri-la devido ao paywall? Tu achas que, se por ventura o paywall estivesse aberto em determinadas matérias da cobertura – como a do caso da campanha do Bolsonaro no WhatsApp – os números de crescimento seriam ainda maiores?
Sim, em todos os sites que estudei funcionamento de paywall a tag carrega em todas as páginas, bloqueadas ou não.
Sobre a tua segunda pergunta: o que percebi, durante a minha dissertação de mestrado, é que o paywall derruba a audiência não a curto prazo, mas a médio e longo prazo. Se você cruza na rede social com o compartilhamento de uma matéria da Folha você vai acabar clicando nela, vai esbarrar no paywall e se irritar e ir embora. Então você acessa o conteúdo quente, tendo lido ele ou não. Mas o que acontece é que você marca a empresa jornalística: se você quiser saber algo voluntariamente e não assina a Folha ou o Estado, você vai procurar um terceiro veículo que não eles para acessar. Ou seja: o acesso via rede social ou link de referência continua, o acesso via buscador cai e o via acesso direto despenca. É a minha impressão, precisaria ser validada em pesquisa.
Mas é incrível que se você reparar os 4 sites mais acessados da lista são todos fechados. Tipo, não dá pra criticar a estratégia deles, dá?